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Arquitetos: Sergio Sampaio Archi + Tectônica
- Área: 980 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Leonardo Finotti
Descrição enviada pela equipe de projeto. Idealizada como residência principal para uma família em um condomínio na região metropolitana de São Paulo, a Casa Float destaca-se pela valorização de sua localização privilegiada: um lote de esquina em uma rua plana, na parte mais alta do condomínio. A residência oferece uma ampla vista panorâmica, e o grande terraço-jardim, situado no pavimento superior, complementa o conjunto ao proporcionar um espaço de contemplação para as três suítes. A arquitetura foi concebida com a ideia de criar uma edificação neutra e visualmente minimalista. Os planos da construção servem como suporte para a projeção da luz solar, sombras das árvores, e reflexos do espelho d'água e da piscina, estabelecendo um objeto sensorial e intimamente ligada ao entorno. Baseada na coexistência de opostos, a proposta revela a dualidade entre estabilidade e suspensão, peso e leveza, opacidade e transparência. Ao explorar as capacidades físicas e visuais da matéria, a poesia da construção se manifesta através das sutis substâncias da arquitetura: o objeto construído é o coadjuvante da composição, enquanto o imaterial assume o protagonismo.
Através da promenade architecturale (passeio arquitetônico), os espaços são gradualmente revelados ao longo do percurso, com um jogo de cheios e vazios, claros e escuros, superfícies opacas e transparências, criando uma experiência tátil e visual. A rampa de acesso e as escadarias, que pendem exatamente um metro sobre o espelho d’água, atuam como elementos mediadores, tornando a obra efetiva a partir da vivência e deslocamento dos moradores. A generosa área de convivência se abre em direção ao pátio traseiro, e a integração dos espaços internos acontece por intermédio de componentes articulados e deslizantes, como os brises soleil, portas divisórias e esquadrias de alumínio. Esses elementos permitem uma variedade de configurações, criando diferentes ambiências e promovendo grande dinamismo na fachada que se abre para o jardim.
Aproximando arte e arquitetura, a empena que faceia a fachada de acesso da garagem, e do lado oposto a sala de estar, é recoberta por uma dupla camada de ladrilhos hidráulicos desenvolvidos pelo artista visual brasileiro João Nitsche. A intervenção busca referência no conceito de "flutuar" expresso pela construção, com uma composição geométrica "quase psicodélica". Os elementos modulares, com variações de segmentos de reta, conformam uma composição semelhante a "redemoinhos" quando aplicados em conjunto, trazendo dinamismo aos espaços interior e exterior.
Os materiais especificados para a construção foram escolhidos para garantir a melhor performance climática dos ambientes quanto ao isolamento térmico-acústico e, simultaneamente, permitir maior esbelteza aos componentes da construção, resultando em uma volumetria mais leve. O sistema estrutural utiliza vigas e pilares metálicos, enquanto as lajes do piso superior, a cobertura e as paredes internas foram executadas em painéis de madeira laminada cruzada de Pinus tratado. A luz natural e a ventilação cruzada são garantidas por domus-venezianas de vidro cristal nos banheiros e aberturas emolduradas por esquadrias de alumínio de correr com vidros laminados incolores e anti-UV. As instalações elétricas e hidráulicas percorrem entre o forro de gesso e as lajes de painel CLT, com as prumadas de cabeamento e tubulações concentradas em shafts de manutenção distribuídos equidistante pela construção.
As calhas técnicas passam horizontalmente sob a laje de piso no vazio existente no "caixão perdido" do embasamento. A elevação do volume principal em relação ao solo evita a transferência de calor e umidade para o interior. Aliada às propriedades de isolamento térmico do espelho d’água perimetral, à abundante ventilação e iluminação natural, à cobertura em manta termoplástica e aos painéis solares para aquecimento de água e geração de energia fotovoltaica, essa solução garante o conforto ambiental da residência, ao mesmo tempo em que reduz os custos com energia elétrica para iluminação artificial e ar-condicionado, tornando sua utilização mais eficiente e ecológica.